Ça y est ! O ano finalmente começou…no terceiro mês antes do ano 2016 acabar !
É sempre assim na casa do Marcel e em grande parte dos países do Hemisfério Norte.
O fim do verão marca o momento em que deixamos de ser um pouco crianças
para dar lugar aos adultos mais ou menos responsáveis que devemos ser…
até o verão do ano que vem !
Nos países de língua francesa, essa época do ano é conhecida como “la Rentrée” . E pra acalmar a turba inconsolável que choraminga o fim dos dias em que a quantidade de peças de roupa que se usa é inversamente proporcional ao número de “apéros” que se ingurgita, as editoras Marcelesas tiveram a ideia genial de concentrar os maiores lançamentos literários exatamente nessa época (talvez secretamente, elas considerem que certas obras podem ser melhor compreendidas quando os efeitos do último copo de Ricard ainda se fazem sentir. Teoria ainda a provar.)
São mais de 365 novos títulos a cada ano (cerca de 650 em 2016…), alguns dos quais escritos por autores que certamente não estarão na lista dos lançamentos da “rentrée” do ano que vem. Não porque são os piores, mas porque são seguramente os que tiveram menos recursos para investir em Marketing. Afinal, mesmo que os leitores mais bem intencionados se consagrassem à tarefa colossal de ler cada um deles, seria necessária a leitura de mais de um livro inteiro por dia pra chegar prontinho para a próxima fornada literária no 1° de setembro do ano seguinte.
Simone e Marcel apresentam aqui uma pequena lista (resumida quase telegraficamente, ao contrário das resenhas Marcelesas, que contam literalmente o fim dos livros!!) dos títulos que têm vontade de desbravar nos próximos meses e propõem aos leitores desse blog um jogo : os 3 livros mais votados terão resenhas publicadas no Paris Mania, e o La Vie en Prose vai entrar em contato com as editoras francesas pra que sejam traduzidos em português até 2017. Não se pode prometer que os resultados serão positivos, afinal dois ratinhos de biblioteca não fazem verão, mas um lobbyzinho às vezes faz !
Voici então“LA” liste Top-13-Simono-Marcelesca de “la rentrée” 2016! (obs: os títulos são livremente traduzidos)
1- “L’autre qu’on adorait” ( “o outro que era adorado“) , de Catherine Cusset :
Retrato de um loser brilhante que poderia ser qualquer um de nós. Sua vida é uma sequência de “quases” que culminam na conquista daquela posição extrema na história de todo e qualquer ser humano onde só há lugar para um.
2 -“Crue” , que pode ser traduzido por “crua” (como em realidade “nua e crua”), por “acreditado“(particípio, no sentido de” crer”) ou “enchente” (complicadinha, essa língua do Marcel. ) História de um homem que volta à sua cidade natal depois de um luto e que afirma: “um dia, dei-me conta que o mundo ao meu redor, com todo mundo que vivia dentro dele, estava desaparecendo diante dos meus olhos e eu era o único capaz de enxergar“.De Philippe Forest, autor cuja biografia é triste (mas o olho, aguçado) .
3 -“Au commencement du septième jour” (No inicio do sétimo dia) de Luc Lang.
A Bíblia diz que Deus criou o mundo em 7 dias e, depois de criar o homem e a mulher, resolveu descansar. Thomas, 37 anos, pai de duas crianças pequenas não fez tanto, mas esmagado por fatos que não pode controlar e pela perplexidade diante da fragilidade da vida, parte para a montanha… A questão é saber o que ele vai encontrar no destino final de seu GPS.
4 -“La Valse des arbres et du ciel” (A valsa das arvores e do céu) de Jean Michel Guenassia.
Biografia imaginária de Van Gogh, que teria vivido um romance proibido com a filha de um de seus benfeitores, e que teria, por isso, morrido de uma forma diferente daquela que contam os livros : e se não tivesse sido vítima de um suicídio e sim de um assassinato? Um suspense de cair o queixo…e a orelha !
5 – “à tombeau ouvert” , que pode ser traduzido mais ou menos como : ” em modo sepultura aberta“.
Essa expressão Marcelesa significa ” Em grande velocidade” e é usada desde o século XVIII pra indicar os perigos de se deslocar muito rapidamente. Por exemplo, quando alguém fazia alusão a um fulano que cavalgava “em modo sepultura aberta” queria na verdade dizer que o tal indivíduo avançava tão rapidamente com seu cavalo que podia sofrer um acidente e acabar morto. Em três séculos, quantas “bocas-santas” não jubilaram exclamando : “eu não disse?” Enfim, uma sepultura é sempre triste. E essa à qual o livro se refere é ainda mais dolorida para todos os brasahillienses que estavam diante da TV no 1° de maio de 1994, dia em que viram o piloto Ayrton Senna passar, em rede nacional, diretamente do patamar de ídolo da formula 1 a mito heroico contemporâneo. De Bernard Chambaz
6 -“14 Juillet” (14 de Julho) de Eric Vuillard.
História da tomada da Bastilha por artesãos, pobres, gente do povo que habitava a Casa do Marcel e se rebelou contra as injustiças em 1789. O autor se baseou em arquivos da polícia para retratar eventos marcantes dessa que foi a revolução que fundou as bases do que é o país hoje. Obra que pode ser bastante inspiradora a brasahillienses cansados de ver seus governantes vivendo na maior mamata Atenção: o La Vie en Prose se isenta de qualquer responsabilidade nos eventuais levantes populares de democracias corrompidas. Tudo na vida é licença poética.
7- “Le grand Jeu” (O grande Jogo) de Céline Minard.
Cansada do barulho do mundo, uma mulher decide de se isolar num abrigo no alto de uma montanha. Ela se impõe a solidão e um condicionamento físico e mental intenso como meios de aprender a viver. Até que um encontro vem desequilibrar suas convicções. Tema que poderia até ser uma metáfora dos dias femininos de TPM, mas é somente um bom livro para aqueles e aquelas que conseguem refletir melhor sobre a vida quando estão em contato direto com a natureza.
8- “California Girls”, de Simon Liberati.
Apesar do título Anglo-saxão, Liberati é um escritor e jornalista francês que foi responsável,entre outros, pela redação da seção horóscopo da revista “20 anos”, onde ele inventava previsões insólitas a fim provocar em suas leitoras adolescentes uma aversão a este que ele considera como uma “pseudo ciência“. Em seu novo livro, ele mergulha num poço de horror bem diferente das espinhas da puberdade e descreve, nos mínimos detalhes e sob um ângulo original, a história do assassinato da atriz Sharon Tate, mulher do cineasta Roman Polanski. Para fãs de voyeurismo com estômagos fortes.
9- Babylone, de Yasmine Reza, escritora recompensada com diversos prêmios, entre eles um Tony Award pela melhor peça de teatro. História de uma confraternização entre casais vizinhos, que começa animada e afavelmente e termina com o assassinato de um dos convidados, para alegria do leitor e total desgosto do cantor Latino (nem sempre festas em apês terminam em felizes bundalelês.)
10 – “Comment tu parles de ton père?” (Como você fala do teu pai?) de Johann Sfar.
Sfar é um célebre autor de histórias em quadrinhos, como o aclamado “O Gato do Rabino“.
Artista eclético, é dele também a autoria do último filme sobre o cantor e compositor Serge Gainsbourg, de livros de devaneios, como “Je t’aime ma chatte” (Te amo, minha Gata) e de desenhos aos traços muito característicos, como é o caso da litografia “Le Chat du Bottier” – o “Gato do Sapateiro” – que enfeita a sala de Simone e Marcel (atenção: cenas de tietagem explícita!). Por uma vez, Sfar decide não falar de gatos: ele conta um pouco do da vida de seu pai. “Mas não há suspense algum”, diz o escritor. “Meu personagem morre no final”.
11- “Continuer” (Continuar) de Laurent Maugvinier.
Quando jovem, Sibylle parecia ter diante de si um futuro brilhante, mas ele foi se desfiando, se desfazendo, como sua vida, ao longo dos anos…ela se interroga sobre como foi que chegou a esse ponto ? Como pôde ela ter vivido sua vida sem realmente protagonizá-la ? Ela, que pensava ter perdido tudo até então, obstina-se a não deixar que o mesmo ocorra com a vida de seu filho Samuel. Ajudar o filho para encontrar o fio…condutor da sua existência. Melhor ( e mais barato!) que uma sessão num consultório fechado e perfeitamente imóvel de um Psi.
12 – “Le syndrome de la vitre étoilée” (Síndrome da janela estrelada), de Sophie Adriansen.
História de um amor como o dos livros mais melosos, mas que não se passa exatamente como nas fábulas de final feliz. Um rapaz, uma moça, dez anos de vida compartilhada e o desejo de ter um bebê que nunca vem…Diário de uma mulher que, longe dos contos de fada, descobre o poder de ser livre (a ler munida de um sutiã velho e um Zippo na mão.)
13-“Les deux pigeons” (Dois pombinhos), de Alex Postel.
Como os pombinhos da fábula de La Fontaine (traduzida em português por Monteiro Lobato) , um jovem casal de bobôs parisienses se ama terna e profundamente…mas não deixa de se indagar sobre o que é se divertir, o que fazer com seus corpos, a qual objetivo de vida se consagrar…cada capítulo apresenta reflexões sobre sexualidade, casamento, vida social…tudo com Paris como pano de fundo principal. Um mergulho instrutivo na vida do “homo parisianus” moderno, para Ornitólogos urbanos e precavidos.
…E então ? Quais serão seus livros escolhidos ? Comente aqui ou mande um e-mail para simonedelyon@la-vie-en-prose.fr