Quem é Simone ?

 

O mundo é regido por Simones e a  França conta com algumas emblemáticas, que ajudaram a construir as bases do espaço que a mulher ocupa no mundo de hoje. Mesmo que, para o desânimo de tantas Simones do presente e do futuro, este espaço ainda necessite de reformas. “Du rafraichissement”, como advertem os anúncios imobiliários do “Le bon coin”, site francês onde particulares vendem de cuecas de criança usadas a palácios em colinas.

Apenas uma delas – a de Beauvoir – tinha “Castor” como apelido. Mas é inegável, entretanto, que, graças a essa e muitas outras “castoras” que não possuem nem o mesmo prenome, nem os mesmos apelidos – esse espaço dedicado às questões femininas possui um “grande potencial”. O que era um “plateau” vazio, sem cômodos nem janelas e mais ilusório que a casa engraçada de Vinicius de Moraes, começou a tomar forma no inicio do século XX… e a reforma nunca mais acabou.

Na grande sala, o espectro de Simone de Beauvoir põe ordem nas prateleiras. Não porque é ela quem deveria fazê-lo, mas porque em sua opinião, “ninguém existe sem fazer alguma coisa”. Ela vai então espanando dos cantos mais obscuros os preconceitos, enquanto resmunga : “o mundo real é uma verdadeira balburdia”.

No quarto, Simone Veil arruma a cama e, ao mesmo tempo, o armarinho de farmácia. Ela acha injusto que as mulheres não sejam donas de seus próprios corpos, ainda que saiba que pra isso, elas precisem cometer às vezes atos que deixarão marcas indeléveis. O conteúdo de sua caixinha de primeiros socorros pouco pode contra isso, senão diminuir um pouco a profundidade das cicatrizes e a intensidade da dor… Como um beijinho curativo de mãe.

Já na “Salle de Bains”, um holograma de Simone Signoret pousa seus olhos claros nas marcas de um tempo que passou mais rápido que os anos. Mais que da beleza que se esvai, ela se lembra do sofrimento e da superação das várias personagens que encarnou e pensa nos impossíveis ideais femininos que afastam as mulheres do que é realmente essencial.

Seguindo e subindo as escadas estreitas do fim do corredor, chega-se ao sótão. Mora ali um espírito à parte, mas que faz parte de tudo :  Simone Weil. “Um coração capaz de bater pelo universo inteiro”, admirado – e mesmo invejado- por sua xará de Beauvoir. Inconformada e engajada, não se sabe bem se essa equilibrista do pensamento é no final das contas filósofa, profeta ou simplesmente a personificação da intuição e da extrema sensibilidade feminina.

E, na garagem, claro, uma projeção Simone Louise de Pinet de Borde des Forest. Tirada em 1929, a carta de motorista desta que tem o nome mais longo que novelas com boas audiências na Globo, permitiu-lhe pilotar carros de corrida como poucas, assim como caminhões da cruz vermelha durante a guerra e veículos da auto escola que, pioneira, mais tarde fundou. É ela quem mostra, sorriso maroto nos lábios, à esta Simone de Lyon que vos escreve, que as vias da história estão livres pra toda mulher que quiser ir longe. Basta o querer e a coragem.

Então, já pro carro Simones ! Que a vida é uma menina. Vocês tomam o volante e é a gente que buzina. Biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiip !!

 Glossário Luso-Marcelês :

Klaxon : aquele botão que os motoristas de Brasa Hill adoram apertar às 4 horas da manhã de sábado .
Rafraichissement : Aquela reformazinha super rápida e baratinha pra quem vende um imóvel e que, no final das contas, revela-se verdadeiro um canteiro de obras da Odebrecht pra quem o compra.